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30 de janeiro (vulgo ontem) é comemorado o Dia do Quadrinho Nacional. E talvez eu não tenha dado pinta o bastante, mas essa data tem um peso para mim.
Eu acho que já falo bastante sobre a rotina de fazer quadrinhos de forma independente no Brasil. E mesmo que não falasse, acho que o André Dahmer a definiu muito bem nesse cartum abaixo:
Pensei no que dava para escrever sobre a data sem soar piegas ou alarmista, e não cheguei a lugar nenhum. O melhor que consegui foi uma lista de conselhos que eu gostaria de ter ouvido há quase 10 anos atrás, quando comecei a levar esse lance de quadrinhos a sério. Acabei sendo piegas E alarmista, mas talvez isso ajude possíveis jovens quadrinistas que estão aí pelo mundo?
Sem mais delongas:
1. Pare o que você estiver fazendo NESSE MINUTO e faça um estoque de caneta nanquim, plástico bolha e papel craft. Seu salário vai até aumentar nos próximos anos, mas o preço dos itens de papelaria também.
2. Não parece, mas as aulas da faculdade ensinando sobre indesign e photoshop serão fundamentais. Preste atenção nelas (sabemos que você não vai).
3. Aproveite enquanto você ainda tem idade pra pagar a passagem mais barata possível em viagens para eventos de quadrinhos. A habilidade de dormir em absolutamente qualquer lugar vai fazer falta no futuro.
4. E falando em falta, durma o máximo que puder sempre que puder, porque isso também vai ficar cada vez mais raro.
5. Cuide da sua luva para tendinite como se sua vida dependesse disso (vai depender).
6. Almoçar pipoca é divertido nas primeiras três feiras em que você vai como expositora. Depois da 4ª, e hora de começar a levar marmita de casa.
7. Aprenda a nomear corretamente seus arquivos e botar num drive, porque depois do 5º zine, fica difícil lembrar em que caceta de pasta você salvou essas porcarias.
8. Haverão momentos em que você vai fazer dinheiro com quadrinhos. Aproveite, mas não se acostume com eles.
9. Se eu posso implorar alguma coisa, eu te imploro: NÃO MANDA O ARQUIVO PRA GRÁFICA EM CIMA DA HORA
10. Não fique se perguntando se vale a pena comprar aquela mala de rodinha. Se pergunte se a sua lombar vai aguentar carregar quilos de quadrinhos para cima e para baixo.
11. Nas primeiras vezes em que um quadrinho chegar da gráfica, vai ser a coisa mais emocionante do mundo. E nas vezes seguintes também (felizmente).
12. Acostume-se com o trabalho solitário, mas também com os momentos de reconhecimento.
13. Os quadrinhos não vão partir seu coração, mas algumas pessoa do rolê sim. Aproveite a companhia daquelas que não irão.
14. Talvez você ainda não tenha percebido, mas fazer quadrinho é um grande esquema de pirâmide. Não se sinta idiota por ter caído nessa, porque vai chegar a sua hora de arrastar pessoas para essa bagunça.
15. Eu ia dizer para você não se arrepender de nada, mas nós sabemos que você não teria escolhido outra carreira, não é mesmo?
E vamos para as recomendações!
Ainda pensando no Dia do Quadrinho Nacional, eu separei 5 títulos que ainda não tinha indicado por aqui, e que eu acho que todo mundo que curte HQs deveria ler. As lojas de cada artista estão devidamente linkadas abaixo. E aproveito para lembrar que se você quiser apoiar ESPECIFICAMENTE o meu trabalho de quadrinista, pode comprar meus zines na minha lojinha, ou se tornar um assinante pago dessa newsletter por 7 reais mensais ou 70 reais anuais.
Bom proveito!
O Pedro tem um traço e um olhar para o mundo muito autênticos, e isso não é pouca coisa. Nessa HQ finalista do Prêmio Jabuti, ele relata a rotina de Bispo, Litz e Maura, três catadores de material reciclável que vivem em São Paulo. Um trabalho fundamental, sem nenhum exagero no uso dessa palavra.
Carta ao pai, de Joanna Maciel
(mande uma DM para a Joanna e compre o seu!)
Joanna refez esse quadrinho autobiográfico cinco vezes antes de chegar ao formato final, e isso pode ser percebido da melhor forma possível. Gosto muito como ela consegue ser extremamente delicada sem deixar de lado um pingo de honestidade.
Não binária, apenas, de Little Goat
(mande uma DM para Little Goat e compre o seu!)
Também autobiográfico, ele apresenta a jornada de le artista Little Goat em se reconhecer como uma pessoa trans não binária. Embora trago muitos fatos, é uma leitura acessível e didática, assim como tocante e acolhedora. A HQ foi finalista do 36º Troféu HQ Mix e recebeu Menção Honrosa do Prêmio Mix Literário.
E a Boca de Luxo entra em campo, de Lalo Souza e Lu Castro
A Lalo não se contentou em fazer um mangá, mas fez um mangá de futebol com um campeonato das trabalhadoras das boates de São Paulo nos anos 70. E tudo isso, baseado em fatos reais, feito em parceria da pesquisadora Lu Castro. Se você cresceu assistindo Sailor Moon e Cavaleiros do Zodíaco, é impossível não amar. A HQ ainda levou 4 indicações aos 36º Troféu HQ Mix.
Uma última chance para o mundo, de Gabriel Dantas
Você já deve ter esbarrado no instagram com as tirinhas do Gabriel, que geralmente envolvem casais em crises, amizades coloridas, gatos de tapa-olho e patos gigantes. Ele tem um talento raro para falar de relacionamentos sem cair em pieguices, e é absurdamente engraçado. Entre os livros já publicados do artista, eu indico esse zine aqui, feito para a coleção Ugrito.
Obrigada por ler até o fim, e até a próxima edição!
luísa!!! vc já sabe que eu não sei responder direito elogio mas muito obrigada pela generosidade sempre <3 te admiro muito