Obs.: o texto abaixa fala sobre suicíd0.
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OS horrores persistem, mas seguimos por aqui.
Nas últimas semanas o algoritmo do substack me mostrou o texto abaixo da Gaía Passarelli sobre o falecido chef de cozinha e apresentador de TV Anthony Bourdain, ou melhor, sobre o imaginário e as lacunas que existem em torno dele.
Eu nunca acompanhei a carreira literária e televisiva do Bourdain, mas tinha curiosidade pela sua figura do sujeito meio rebelde, meio rockstar, que ganhava dinheiro fazendo o 99% das pessoas paga para ter acesso: comer bem e viajar para qualquer canto do planeta. Essa curiosidade, porém, ganhou outros tons por um motivo bem menos agradável: o fato de que ele tirou a própria vida em 2018, durante uma dessas viagens.
O texto da Gaía alugou um triplex na minha cabeça, e me fez ir atrás de ler Cozinha Confidencial, livro publicado em 2000 onde o chef destrincha o bom, o mau e o feio do mundo da culinária. E a figura que eu encontrei lá é de fato muito próxima do que todas as outras pessoas pintavam para mim.
Porque tem muita gente falando do Bourdain, mas muita gente mesmo. Sobre a juventude rebelde, o problema com as drogas, a entrada no mundo da culinária meio por acaso, o bom gosto para livros, filmes e músicas, e essa persona meio machinho, meio “juventude transviada” que se destacava nos livros e nos episódios da TV, mas que conviviam com uma timidez surpreendente e amor muito genuíno pelo trabalho duro, bem-feito.
Mas o que mais falam, acima de tudo, é a da incapacidade de lidar com a decisão de um sujeito tão amado e reverenciado de simplesmente acabar com tudo. O suposto motivo — o relacionamento turbulento com a atriz e diretora Asia Argento —, só torna o luto mais difícil de digerir.
Como um sujeito que deu uma volta na própria vida espetacular, já nos seus 40 e tantos, foi embora desse jeito, depois de conquistar (supostamente) tudo que alguém poderia querer?
A morte de Bourdain tem paralelos com a de outra figura pública: o cantor Chris Cornell, conhecido por bandas como Audioslave, Soundgarden e Temple of the Dog. São histórias muito parecidas, desses sujeitos que apesar de uma série de obstáculos, deram “certo” na vida. Conseguiram a vocação, o dinheiro, a família e os amigos dos sonhos.
E ainda assim, nenhum dos dois quis continuar por aqui.
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