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Newsletter B#8: A fugitiva

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Luísa Lacombe
abr 25, 2025
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Cena do videoclipe de “Light Years”, do The National

Não é novidade nenhuma que eu acompanho fielmente os textos que a Isadora Sinay publica aqui nessa plataforma. Existem muitos motivos para eu ler e me identificar com eles, e essa semana ela trouxe mais alguns:

Da janela
Uma temporada no inferno
Eu peguei um livro da Louise Glück por acaso, como eu faço às vezes. Eu tinha o ebook de uma parceria com a editora, estou tentando ler mais variado do que só ficção contemporânea escrita por mulheres descompensadas e eu sinto uma vaga obrigação de saber comentar gente que ganhou o Nobel, então eu abri (metaforicamente? digitalmente?) um livro de poemas…
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3 months ago · 86 likes · 9 comments · Isadora Sinay

Partindo do poema “Persephone the Wanderer” (“Perséfone, a Andarilha”, em tradução livre), da vencedora do Nobel Louise Glück, Isadora traz uma reflexão muito profunda, densa e dolorida do mito e seus possíveis significados. Em não vou entrar em mais detalhes porque acho que todo mundo devia ler o texto. Do mesmo modo que o poema de Glück atravessou a Isadora, eu fui atravessada por sua análise.

Perséfone, que também pode ser chamada de Cora ou Prosérpina, é na mitologia grega a filha de Deméter, deusa responsável pela agriculta e da fertilidade. Um dia Perséfone é sequestrada por Hades, senhor do Mundo Inferior, e Deméter entra em desespero. Sem esperanças de rever a filha, ela impede que as colheitas cresçam e condena o mundo ao pior dos invernos.

Em algumas versões, Zeus e outros deuses vão atrás de Hades para devolver a sequestrada. Veja bem, o problema não era tanto a infelicidade de Deméter, mas o fato de que ela estava matando os mortais de fome e frio. Só tem um porém: Perséfone comeu uma romã do Mundo Inferior, e as regras são claras: qualquer lanchinho na terra dos mortos te impede de voltar para a dos vivos. Perséfone já era agora parte do reino de Hades, e sua rainha.

A solução proposta é que mãe e marido dividam a companhia da moça: Perséfone passaria parte do ano com Deméter, e outra parte com Hades. Mortais morreriam congelados, mas não o tempo todo. Assim teria surgido o conceito das estações.

Em seu texto, Isadora comenta que o poema de Louise Glück a fez perceber que ninguém nunca perguntou para Perséfone o que de fato ela gostaria. E ao menos nesses versos, não parece haver uma resposta. Trazendo aqui os mesmos trechos destacados por Isadora:

I am not certain I will
keep this word: is earth
"home" to Persephone? Is she at home, conceivably,
in the bed of the god? Is she
at home nowhere? Is she
a born wanderer, in other words
an existential
replica of her own mother, less
hamstrung by ideas of causality?

"Persephone the Wanderer" do livro Averno, de Louise Glück. Reproduzido desse link. 

Na maioria das versões do mito, não existe questionamento sobre as vontades de Perséfone. Ela se torna Rainha do Submundo do mesmo modo que Édipo assassina seu pai e casa com sua mãe. Porém, se para Édipo e outros heróis trágicos, o destino parece pesar feito uma tampa de caixão, em Perséfone a sensação que fica é outra. Sua transformação parece irreversível, mas não necessariamente maligna.

Nas palavras de Louise Glück:

she has been a prisoner since she has been a daughter.

Camus dizia que é preciso imaginar Sísifo feliz. Talvez seja preciso imaginar Perséfone como fugitiva.

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